Quem pode falar sobre moda?

Apesar de ter um blog, meu tesão mesmo é por jornais e revistas, que é o que eu estudo e também onde trabalho. Então me sinto mais a vontade pra falar sobre eles, essa chamada mídia "oficial" ou convencional. O que tenho visto é uma "blogalização" dos meios impressos, mas aproveitando-se do mais raso do raso da internet -- e não do que ela tem de melhor. Cada vez menos matérias ligadas a comportamento e/ou cultura e cada dia mais dicas de compras, celebridades e releases copiados ipsis litteris. Claro que isso também faz parte desse imenso universo da moda, mas não dá pra ser SÓ isso. Basta reparar o tratamento que é dado nos jornais, por exemplo. A Folha de SP é um dos poucos jornais que coloca sua cobertura de moda dentro do caderno cultural (Ilustrada). Geralmente ela está atrelada às editorias "femininas", seja lá o que isso signifique, reforçando os estereótipos de "coisa de mulherzinha", ou pior ainda: na parte de cobertura social, celebridades, fofocas. Não é óbvio que se a direção de um jornal coloca a cobertura de moda no caderno de fofoca é porque ela quer um olhar condizente com esse mundo resumido a frivolidades e purpurina?

Mas a gente cai naquele complexo "teorema de Tostines": Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? Até que ponto a visão superficial não prevalece porque é o que interessa às pessoas? Basta ver as notícias mais acessadas todos os dias nos portais de comunicação pra constatar.

Mas tem coisa que a gente quer e coisa que a gente precisa, não é? Fazendo uma analogia meio besta com comida, eu bem que gostaria de comer só pizza, cerveja e chocolate, mas eu sei que preciso de mais do que isso. Com informação também é assim, e isso ainda é levado em consideração quando um jornal aborda economia ou política, mas quando cai no chamado vão comum das "variedades" parece que tanto faz como tanto fez, pode escrever qualquer besteira. Ainda é muito comum a visão deturpada que a informação de moda é mero entretenimento e não traz conseqüências. Mas basta conhecer alguma pesquisa sobre anorexia, por exemplo, que a mídia de moda está lá apontada como um entre inúmeros fatores que influenciam esse comportamento, ou pior, essa doença. Ou seja, não, a moda não é inofensiva.

Daí eu caio na pergunta do tópico: Quem pode falar sobre moda?
É uma pergunta generalista. Acho que foi a De Chanel quem falou sobre as mil possibilidades comunicativas e interativas que surgiram com a internet. Concordo com ela. Mas de maneira geral, quando falamos de revistas, jornais, televisão, meios massivos, com uma grande empresa por trás, há a questão da responsabilidade (inclusive jurídica) e do alcance que eles têm. Não vejo essa responsabilidade por meio de um diploma (seja de estilista ou de jornalista), mas: 1. pelas linhas editoriais dos próprios veículos; 2. pelo conhecimento, pelo estudo, pelo pensamento de quem está escrevendo sobre o assunto. Não basta saber diferenciar uma chita de uma seda, mas ter uma visão ampla: saber o que a chita e a seda significam, como são produzidas, porque uma é considerada nobre e a outra não... e, principalmente, não levar o leitor acreditar que o que importa é vestir seda -- ou Louis Vuitton, ou Chanel.

Eita, ficou um postão. O assunto é mais complicado do que parece, não sei se me fiz entender...

PS: Adorei as propostas do forum

Adorei o que a De Chanel disse e concordo. Sou a favor de todo mundo falar sobre o que quiser. Mas admito que às vezes leio certas coisas que causam vergonha alheia.

Mas o que eu posso fazer? Reprimir? Mandar um e-mail pra menina falando "minha filha, cale a boca e vá arrumar o que fazer porque você está fazendo apologia à ignorância?". Não. Acho que tem muito blog superficial por aí e muita menina que confunde informação de moda com consumismo. Para esses casos, o que eu posso fazer é não colocar o blog no meu Google Reader e esquecê-lo ou, na melhor das hipóteses, deixar comentários que instiguem a autora a refletir. Mas haja saco para fazer isso, né? E outra coisa, ela não pediu uma professora virtual de moda, e eu nem tenho moral para sê-lo.

Então, eu prefiro selecionar com um pouco de critério os blogs que eu leio, para evitar ser picada pelo bicho do consumismo desenfreado, e usar o espaço que eu tenho na internet para aprofundar os assuntos que me interessam. Pouca gente tem a paciência de ler e levar a sério. Fotos de esmaltes e sapatos bonitos atraem muito mais leitores. Mas o importante é que todo mundo pode se expressar e cabe ao leitor procurar a fonte de informações que mais se adeque ao próprio perfil, e isso vai depender de ele escolher entre, naquele momento, o entretenimento ou a informação. Acho que blogs com as últimas comprinhas da fulana em NY é entretenimento, e não é ruim gostar disso ou postar isso, e um fórum como o Idéias com Acento é informação (puxa-saquismo ativado).

Sei que tô atrasada nessa discussão, mas fui inspirada pelo nascimento do blog de moda de uma amiga antiga. Bom, o texto dela é muito ruim e o único mérito da moça é ter sido dona de uma loja. Mas também os produtos não eram lá essas bacanices, então, só posso proferir um OMGQH (= Oh my God que horror) bem graúdo.

Todo mundo pode ter um blog (ou qualquer identidade digital) e essa é a melhor e a pior coisa da internet.
Como muitos falaram aqui, é a relevância do conteúdo/personalidade ou a credibilidade que conta.

[Ainda bem que credibilidade pode ser construída, pois nem todos entraram na internet com uma mega carreira em andamento. E, se para muitos, a internet foi um complemente/reflexo de boa reputação off-line, para tantos outros foi o trampolim que possibilitou a experimentação da tão sonhada fama (que, ainda bem, pode ser passageira)]

O grande problema dos blogs de moda (entre tantos outros) é que a moda é um pouco mais complexa do que parece. Todo mundo se apropria desse “amor às roupas” e acha que é a mesma coisa que escrever sobre sua banda favorita, ou sobre guias de casas noturnas.

O furo é mais embaixo, e o conteúdo da maioria acaba ficando superficial. Coisa que a moda aparenta ser, mas não é. Aí começa o mau uso de termos como “tendência”, a popularização de jargões e muitas outras coisas. E como nós estamos no país da malandragem, muitas meninas encontraram um grande filão para ganhar “mimos”, falando de sua “paixão” e atingindo até uma certa “fama”. É perfeito né?

Esse é o grande problema, a meu ver, mas ainda não é o pior deles.

Eu não sou a maior entendida de moda do mundo. Até um ano atrás eu só gostava (muito), comprava e lia pequenas coisas (inclusive blogs). Então, só estudo mesmo e faço cursos há um ano. Sei que isso é pouco e sei que odeio várias coisas por aí sem entregar a inovação que todos estão esperando (não de mim necessariamente, mas de alguém).

Mas eu fiz uma faculdade de comunicação, pô (assim como muitas de vocês). Eu sei que escrevo com alguma decência (apesar de errar de vez em quando, assumo). Eu fiz um bando de cadeiras teóricas de sociologia, arquitetura, psicologia, arte e mais um monte de “chatices” que nada tem a ver com roupas-compras-acessórios.

Então, quando alguém decide ter um blog de moda devido a uma grande paixonite pelo assunto e não entrega um texto (no sentido de narrativa) bom, eu não perdoo. Quando alguém insiste em exercer uma simpatia pessoal ao invés de uma empatia textual, eu quase vomito. Quando alguém tenta empurrar uma tendencinha brega goela abaixo, pois vai se usar, eu torço o nariz e nem uso. Quando alguém usa de promoções escabrosas e testes duvidosos pra obter mais acessos, eu não contribuo. E quando alguém é na vida pessoal incoerente com o que escreve, eu não respeito.

[Desculpa a longuisse do texto, mas ficamos sem internet ontem e aproveitei pra escrever, pois pesquisar não pude]